28 DE OUTUBRO: ANIVERSÁRIO DA COLUNA PRESTES.
Na noite de 28 de outubro de 1924, o 1° Batalhão Ferroviário, sediado na cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, se levantou em armas contra o governo Arthur Bernardes, sob o comando do capitão Luiz Carlos Prestes e do tenente Mário Portela Fagundes. Este não foi um acontecimento isolado, e nem foi o levante inaugural de um processo histórico muito mais longo, com episódios marcantes tanto anteriores quanto posteriores àquela data. O que tem de peculiar no levante de Santo Ângelo é que ele marcou o início da Coluna Prestes, esta sim, a odisseia mais destacada do movimento tenentista, que movimentou o Brasil a partir da segunda década do século XX.
Jovens oficiais do exército, das outras armas e da força pública (polícia), oriundos dos setores médios da sociedade, acabaram por representar os anseios das “camadas médias urbanas”* contra as oligarquias da República Velha que dominavam as instituições do Estado brasileiro nos tempos iniciais do capitalismo tardio do nosso país. O capitalismo tardio, associado e dependente do imperialismo desde o nascedouro, fazia uso de instituições estatais retrógradas, discricionárias e violentas contra a imensa maioria do povo, majoritariamente negro, pobre e rural. As “camadas médias urbanas”*, carecendo de representação política que nascesse delas próprias, acabaram por adotar os jovens oficiais como uma espécie peculiar de representantes políticos. Em outras palavras, o inconformismo dos jovens oficiais e seus levantes armados tinham apoio relevante em setores sociais que desejavam maior participação na política, a modernização do estado e processos eleitorais menos corrompidos pelo coronelismo.
Se é fato que as pautas do movimento tenentista não tinham caráter socialista, com certeza elas adquiriam conteúdo revolucionário, já que lutavam para derrubar os governos oligárquicos e instituir um regime democrático com maior participação popular, mesmo que seus líderes não entendessem a profundidade das diferenças de classe que compõem a nossa sociedade.
O objetivo do levante de Santo Ângelo e dos outros levantes no Rio Grande do Sul naquele final de outubro de 1924 era dar continuidade ao movimento nacional pela derrubada do governo Arthur Bernardes. Tinha caráter de urgência, porque precisava dar apoio ao movimento paulista, que tinha tomado a capital de São Paulo em 5 de julho, e, depois de um mês de resistência, foi levado à retirada para o interior do Estado, indo acantonar em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, depois de muitas batalhas e dolorosas derrotas, com muitas perdas humanas.
Vários outros quartéis se insurgiram no Rio Grande do Sul naqueles dias, assim como contaram com a arregimentação de caudilhos “maragatos” seguidores de Assis Brasil, adversário político do governador do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros.
Por fim, restaram mobilizados e em condições de seguir na luta os regimentos que ficaram sob o comando de Luiz Carlos Prestes na região de São Luiz Gonzaga, no noroeste gaúcho. O segredo da força peculiar do 1° Batalhão Ferroviário, o “Ferrinho”, era a confiança incondicional dos seus soldados, cabos e sargentos em relação ao comando. O capitão Luiz Carlos Prestes e o tenente Mário Portela Fagundes tinham instituído princípios e práticas humanitárias no batalhão de Santo Ângelo nos dois anos anteriores, inclusive alfabetizando todos os soldados. Estes laços de confiança e camaradagem ficaram para sempre, até a retirada da Coluna para o interior da Bolívia, onde Prestes permaneceu com os soldados, e conseguiu trabalho para que todos pudessem voltar ao Brasil em segurança ou dar rumo às suas vidas onde fosse possível.
Da região de São Luiz Gonzaga, a Coluna Prestes, já assim denominada, rompeu o forte cerco das forças governistas utilizando táticas militares inéditas para efetivos profissionais: substituir a guerra de posição pela guerra de movimento. Ou seja, não permitir que o inimigo a acantonasse dentro do seu cerco tático. Evidente que isso carecia de outro tipo de organização das forças, e de informações muito precisas sobre o terreno por onde percorrer e os locais por onde andava o inimigo. Essa tática fez com que a Coluna Prestes nunca fosse derrotada, porque, no geral, ela escolheu as batalhas que iria fazer, derrotando as táticas do inimigo que era muito mais poderoso, por dois anos e quatro meses, por 13 estados brasileiros, caminhando 25 mil quilômetros, enfrentando de forma intercalada forças comandadas por 18 generais.
Cerca de 1.500 combatentes, incluindo cerca de 50 mulheres, romperam o cerco de São Luiz Gonzaga, atravessaram o Rio Uruguai, cortaram o Extremo Oeste catarinense, e chegaram à Foz do Iguaçu (Paraná) em abril de 1925. Os efetivos da coluna gaúcha queriam seguir em frente, e então houve a fusão do que tinha sobrado do levante paulista de 5 de julho de 1924 com a coluna que chegara do Rio Grande do Sul.
Formalmente, o comandante militar da coluna passou a ser o major Miguel Costa, da Força Pública paulista, enquanto Luiz Carlos Prestes passou a ser o chefe do Estado Maior. Mas o movimento insurgente, oficialmente chamado de 1° Divisão Revolucionária, já tinha o nome de Coluna Prestes desde os meses anteriores, quando se tornou a maior esperança de todos os setores que lutavam contra as oligarquias da República Velha. Prevaleceu o nome que já ganhara a simpatia popular, assim como Luiz Carlos Prestes passou a ser designado como “cavaleiro da esperança”, e nenhuma perseguição posterior conseguiu apagar sua referência.
A odisseia realizada pelo efetivo que oscilou entre 1.500 e 700 combatentes até se exilar na Bolívia em fevereiro de 1927, marcou a história do Brasil, ficou conhecida em todo o mundo e determinou a derrota política da República Velha, que foi extinta em outubro de 1930 pelo movimento comandado por Getúlio Vargas, que tinha a maioria dos tenentes da Coluna Prestes como participantes destacados. Prestes não estava com os tenentes em 1930, porque tinha chegado ao comunismo, ou seja, tinha entendido que não bastava trocar uma oligarquia por outra, e que era necessário fazer uma revolução social de caráter socialista.
*Expressão extraída do livro “A Coluna Prestes”, da historiadora Anita Leocádia Prestes, Editora Paz e Terra. No geral, este livro é a referência bibliográfica da maior parte das informações desse pequeno texto.
Liga Comunista Brasileira – LCB
28 de outubro de 2025