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RESOLUÇÃO DE CONJUNTURA INTERNACIONAL

COMITÊ CENTRAL DA LIGA COMUNISTA BRASILEIRA – LCB

27/09/2025

O caráter fascista do imperialismo

A ameaça guerreira do imperialismo recrudesce. O governo Trump é a expressão mais agressiva do capitalismo em sua fase monopolista. Com o trumpismo, o imperialismo assume um caráter fascista. O recrudescimento do fascismo, oitenta anos após a derrota do nazifascismo na segunda guerra, é consequência da crise do capital financeiro, entendido na concepção leninista de fusão do capital bancário com o capital industrial, e de sua ideologia neoliberal, reveladas na debacle dos mercados de capitais em 2008.
Ao mesmo tempo que a crise se instala no chamado Ocidente Coletivo (EUA, União Europeia, Japão e suas extensões anglófonas e asiáticas), surgem novos atores a desafiar a hegemonia estadunidense. A articulação dos BRICS, a ascensão da China e da Índia, o fortalecimento da Rússia são encaradas como ameaça pelo trumpismo e pelo seu círculo de financistas e empresários de tecnologia.
A crise da acumulação de capital do capital nos EUA e a concorrência de novos atores faz com que o trumpismo, mais do que excentricidades de seu líder, ameace com tarifas, retaliações, anexação territorial e intervenção militar inimigos e aliados, indistintamente. Sem medo de crises internas ou de violar os princípios formais da Constituição estadunidense, Trump baixa medidas internas e externas para afirmar os privilégios e ganhos da alta finança e da grande empresa sediadas nos EUA.
A revolução tecnológica em curso, com o salto da chamada inteligência artificial e transição energética, faz agravar ainda mais a contradição entre as forças produtivas e as relações de produção. O reflexo desse estado é aumento da pobreza e a profusão de crises do capitalismo, que se sucedem em prazos cada vez mais curtos. O fascismo encontra campo fértil na dissolução do Estado de bem-estar, decorrente das políticas neoliberais.
O trumpismo não é um ponto fora da curva da política dos EUA. É fruto da dinâmica da acumulação de capital naquele país, refletindo a crise do sistema imperialista. A falência do sistema bipartidário é corolário da desindustrialização, perda de renda das camadas médias, desemprego, principalmente entre negros e latinos, e perda da competitividade da economia estadunidense.
O Partido Republicano foi tomado por uma ala de extrema-direita e o Partido Democrata é visto, pelo eleitorado como portador de um falso progressismo. Republicanos e Democratas sempre representaram facções de um mesmo sistema imperialista. Ambos partidos provocaram guerras, intervieram nos assuntos internos de diversos países, sempre abrindo caminho para os grandes monopólios estadunidenses. Os Democratas iniciaram a guerra na Ucrânia e mantiveram apoio irrestrito a Israel. Porém, o Partido Democrata foi superado pelo discurso fascista aberto.
As correntes tradicionais do Partido Republicano e do Partido Democrata foram superadas por uma tendência política, encarnada no trumpismo, que dispensa mediações para a aplicação das políticas do imperialismo. O fascismo trumpista não é passageiro, marca a tendência fascista do imperialismo na atualidade.
A principal ameaça à humanidade é o imperialismo. O desastre climático e ambiental, a proliferação de armamento nuclear, a permanência da miséria e da fome no mundo, tudo isso é fruto da ação destruidora do capital em sua fase monopolista, que reduz tudo à acumulação abstrata, à submissão de tudo ao processo de valorização do capital.
Nesse sentido, a política internacional dos comunistas deve dirigir esforços para derrotar o imperialismo, com centro nos EUA. A luta antiimperialista agrega, na atualidade, um caráter antifascista. O capital financeiro lança mão da forma fascista para enfrentar sua crise e conter a insatisfação social.

Trumpismo, ameaça guerreira e fascismo internacional

O segundo governo Trump multiplica os focos de tensão internacional. Apesar das promessas, mantém vivo o regime de Zelensky para dar continuidade à guerra da Ucrânia. Volta suas baterias contra a América Latina, enviando uma força-tarefa naval para o mar do Caribe com fins de ameaçar a Venezuela. Redobra as sanções contra Cuba e mantém campanha midiática contra a Coreia Popular. Mantém apoio decidido ao sionismo e ao genocídio em Gaza.
O Brasil é atingido por um tarifaço sem justificativa econômica. Membros do judiciário e do executivo têm seus vistos cancelados e são aplicadas leis extraterritoriais contra o governo e personalidades brasileiros.
A retórica agressiva se estende aliados. A União Europeia foi forçada a um acordo humilhante. O Reino Unido atendeu a todas as exigências sem conseguir arrancar nada do que vagas promessas de diminuição de tarifas sobre aço e alumínio. A UE se obriga a manter pelos seus próprios meios o conflito na Ucrânia com fornecimentos superfaturados da indústria bélica estadunidense. A rendição ao trumpismo agrava a crise econômica europeia, com a perda de fontes de energia competitivas e esforço de guerra redobrado.
Trump representa o centro de uma articulação fascista internacional. A falta de respostas dos governos europeus e latino-americanos, tanto de tintura social-democrata e progressista ou da chamada centro-direita, às crises econômicas e sociais criou terreno fértil para o crescimento do fascismo. A indiferenciação entre os partidos social-democratas e de centro-direita é cada vez maior, com suas políticas ditadas pelo capital financeiro.
O presidente estadunidense articula a rede fascista interna, na América Latina e na Europa. Do bolsonarismo no Brasil ao Vox espanhol, passando por Milei, na Argentina, Kast no Chile a Netaniahu e Zelensky, os partidos fascistas e protofascistas não escondem sua admiração por Trump e esperam seu apoio nas disputas políticas em seus países.
A política externa de Trump tem por objetivo submeter os aliados europeus, bem como Japão e Coreia do Sul. Retomar a antiga influência dos EUA na América Latina. Manter a presença estadunidense no Oriente Médio, tendo Israel como ponta de lança. E combater os BRICS, se possível rompendo o bloco, atacando seus elos mais frágeis, como Brasil e África do Sul.
Trump não exita em humilhar aliados, ameaçar com intervenção militar – não apenas na retórica, mas com envio de forças aeronavais – e aplicação de sanções indiscriminadas. Ao mesmo tempo faz acenos aos que não se rendem de imediato às suas ameaças e sanções. É o caso da China e da Rússia, com quem estabelece canais de diálogo.

BRICS e a nova ordem internacional

A ordem estabelecida pelos EUA e seus aliados coloca os organismos internacionais em um papel de irrelevância. A ONU já tinha limitações em função do direito de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança. Os EUA têm ignorado seguidamente a ONU em suas intervenções pelo mundo.
A tentativa dos EUA estabelecerem uma Ordem Mundial única, baseada em regras impostas pela OTAN, OCDE, FMI e Banco Mundial levou a articulação de outros pólos nas relações internacionais. Com um discurso que valoriza o multilateralismo e não-intervenção nas questões internas dos países, a partir do final da primeira década deste século, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul criaram o mecanismo chamado BRICS.
Essa articulação reflete a transformação da China na primeira potência industrial, na ascensão da Índia, a recuperação da Rússia após o desastre que se seguiu ao fim da União Soviética e o ensaio do Brasil de procurar outros pólos para sua política exterior. Em meio ao processo de consolidação da articulação BRICS, China e Rússia estabeleceram uma aliança estratégica que desafia as tentativas de EUA se tornarem totalmente hegemônicos.
Os ataques do trumpismo à Índia e ao Brasil tornam a unidade do bloco mais forte. Os BRICS atraem outros países da Sul Global. Apesar de seus limites, o bloco se apresenta como uma expressão real do multilateralismo e como contraposição ao imperialismo estadunidense. Não à toa, o imperialismo estadunidense envida todos os esforços para dividir o BRICS.
O BRICS é uma alternativa real à hegemonia do dólar no comércio e nas finanças internacionais. É uma esperança para Cuba diminuir os efeitos do bloqueio econômico criminoso. É a possibilidade de se quebrar a hegemonia estadunidense nas relações internacionais.
O BRICS se configura em uma contraposição real ao imperialismo. O desenvolvimento de China e Rússia possui especificidades, que devem ser compreendidas. A disputa entre o Ocidente Coletivo, capitaneado pelos EUA, e os BRICS não pode ser entendida como um mero conflito interimperialista.

A ação imperialista na América Latina

Na América Latina, a rede fascista se dissemina e empareda os partidos de direita tradicionais. Bukele, em El Salvador, oriundo da Frente Farabundo Marti, transforma seu país em estado-prrsão. Na Argentina, o macrismo e a UCR somem no embate direto entre o grupo de Milei e os setores mais à esquerda do peronismo. Na Colômbia, o uribismo, fortemente ligado aos EUA se torna a única força de direita. A oposição venezuelana abandonou qualquer tintura democrática, não escondendo seu alinhamento ao imperialismo. No Chile, a candidata comunista enfrenta três candidaturas de extrema-direita, para as eleições novembro, emparedando os partidos da antiga Concertación.
A ação golpista patrocinada pelo imperialismo estadunidense não se vale, necessariamente, do militarismo, lançando mão de putch das Forças Armadas. Outras ferramentas são utilizadas, com atuação institucional de parlamentos e judiciários locais. Lawfare, campanhas midiáticas com ampla utilização das redes digitais e votações aparentemente legais nos parlamentos são a cara da nova fase do golpismo na América Latina. Democratas e Republicanos, igualmente, se utilizaram desses instrumentos. Trump que recoloca a ameaça militar nas relações com a América Latina.
As burguesias latino-americanas, em contradição com a dependência de nossos países em relação à exportações para o mercado asiático e chinês em particular, perseguem um alinhamento com os EUA. Contam com o auxílio estadunidense para derrotar projetos minimamente progressistas. As Forças Armadas de nossos países estão sob a direção do Comando Sul do Pentágono, de quem importam a doutrina, os equipamentos obsoletos e a estratégia operacional. Os bilionários da América Latina nominam suas riquezas em dólar, enviando sua riqueza monetária para paraísos fiscais dolarizados.
As classes dominantes de nosso Continente assumem o fascismo, em linha com o fascismo nos EUA. A diferença do fascismo latino-americano em relação às formas clássicas do fascismo, a exemplo da Itália e Alemanha, é que o fascismo de nossos países têm a questão nacional como retórica, defendendo efetivamente, interesses de seus aliados estrangeiros.
A classificação de organizações criminosas, algumas inexistentes, como terroristas traz mais tensão e é mais um ponto da escalada imperialista. Com essa classificação, Trump procura se livrar de qualquer limitação legal para intervir militarmente nos países latino-americanos.
Com toda ofensiva de Trump sobre o nosso continente, alguns governos de nossos países ensaiam uma resistência. Além de Venezuela e Cuba, com posição antiimperialista consolidada, Petro, na Colômbia e Claudia Scheinbaun, no México, respondem de maneira firme às provocações do mandatário estadunidense. A presidente mexicana não se deixou intimidar por tarifas, pela política migratória antimexicana e ameaças de intervenção militar direta.
O sentido antifascista da luta anti-imperialista é mais presente do que nunca em nosso continente. A unidade dos povos contra o imperialismo e o fascismo, com ações concretas pelo Continente, é urgente e necessária.
À classe trabalhadora do Continente que mais interessa a derrota do fascismo. A ascensão de governos fascistas, no Brasil de Bolsonaro, na roupagem “libertária” de Milei na Argentina, no interregno golpista na Bolívia, Noboa no Equador, dentre outros, foi acompanhada de perdas de direitos sociais e do trabalho, desastre ambiental e violência política contra as organizações populares. Derrotar o fascismo é tarefa da classe trabalhadora sobretudo.
A rejeição ao imperialismo no nosso Continente, como mostra a mobilização popular no Equador, no Brasil e na Argentina. Na Venezuela e Cuba, o povo cerra fileiras ao lado de seus governos na defesa de seus países contra a ameaça imperialista. As manifestações antiimperialistas, em suas mais variadas formas, tendem a crescer na mesma proporção da ofensiva do imperialismo estadunidense.

As tarefas internacionais da LCB

A LCB deve contribuir para a construções de ações unitárias dos povos da América Latina. Nesse sentido, a participação da Internacional Antifascista, organização sediada em Caracas e composta por organizações de mais de 80 países, deve ser intensificada, tanto no que tange a ações internacionais e a organização do Capítulo Brasil da Internacional e seus núcleos estaduais.
Devemos envidar esforços para que o governo brasileiro reconheça o governo de Nicolás Maduro como legítimo representante do povo venezuelano, retirando quaisquer questionamentos acerca do processo eleitoral da Venezuela. No mesmo sentido, exigir que o governo brasileiro retire o veto à entrada da Venezuela nos BRICS.
Tarefa central dos comunistas é o trabalho de Solidariedade à Cuba. A LCB tem significativa atuação no Movimento Nacional de Solidariedade à Cuba. Essa atuação deve ser ampliada e intensificada, tendo em vista o caráter amplo e unitário do Movimento Solidariedade.
A questão palestina é central na situação internacional. A entidade sionista é o principal instrumento de desestabilização da Ásia Ocidental, agindo em nome do imperialismo. Derrotar a entidade sionista é condição sine qua non para se derrotar o imperialismo. Devemos integrar de maneira decidida o movimento de apoio ao povo palestino e estreitar as relações com quem efetivamente resiste ao sionismo, com todos os meios necessários.
A LCB apoia a candidatura de Janete Jara, dirigente do Partido Comunista Chileno, a Presidente do Chile. A candidatura de Janete é representativa de uma ampla frente de partidos e organizações populares daquele país. Devemos colaborar com o Comando Brasil da candidatura Janete Jara.
A LCB deve integrar e construir os movimentos de solidariedade à Coreia Popular. O governo e o povo norte-coreano são baluartes da resistência ao imperialismo.
Da mesma forma, devemos colaborar com a República Saharauí, que resiste à opressão colonial da monarquia marroquina. Devemos apoiar a Associação de Solidariedade ao Povo Saharauí e a representação brasileira da Frente Polisário.