Menu fechado

O Rio de Janeiro: o espelho podre de um Estado que odeia o justo e o honesto.
Artigo de opinião por Otávio Costa

O Rio de Janeiro, que apesar de grandes problemas já existentes no passado, sempre foi reconhecido por sua beleza e vitalidade, com seus inúmeros cartões-postais, com sua biodiversidade, com a sua ilustre capital que já fora capital do Brasil, hoje se tornou exclusivamente o retrato mais fiel da decomposição do Estado burguês brasileiro. A podridão que transborda de suas ruas, de suas favelas abandonadas, das crianças desalentadas vendendo balas nas ruas, de seus palácios infiltrados por baratas e tomados por corrupção, são expressões concretas de um sistema apodrecido, que vive da exploração, da desigualdade e da repressão

A cidade que um dia foi chamada de “maravilhosa” é hoje um imenso esgoto social, moral e político, onde os ratos prosperam e os homens justos são soterrados e marginalizados.

Enquanto o povo trabalha exausto, indo em ônibus lotado e esburacado por balas, sem ar condicionado num calor por vezes quase de 40 graus, sem saúde, sem moradia e sem segurança, os parasitas da elite, os donos das empreiteiras, banqueiros e comandantes das hordas de bandidos e milicianos que chamamos de Estado vivem em condomínios de luxo, com seguranças armados, blindados contra o cheiro da miséria que eles mesmos produzem. A desigualdade, a criminalidade, as maiores injustiças, o fundamentalismo obscurantista de igrejas neopentecostais que lavam o dinheiro do tráfico de drogas, tudo isso virou projeto de governo das elites cariocas. As favelas, a miséria, o desemprego, o medo, são o preço da riqueza de poucos.

A violência policial e das facções criminosas é a face armada desse projeto. Com uma mão o Estado ‘oficial’ invade as comunidades como se fossem territórios inimigos, mata crianças, humilha trabalhadores e chama isso de “ordem”, com a outra, as facções e milícias colocam armas na mão de crianças, prostituem menores de idade, extorquem trabalhadores, lotam as ruas do Rio de Janeiro com crack e suprem os políticos com cocaína. Enquanto isso, os piores criminosos que chefiam todo esse alto projeto civilizatório: os ladrões engravatados, os políticos comprados, os empresários mafiosos brindam champanhe em Copacabana. O Rio é o teatro perfeito da hipocrisia burguesa. Um Estado que não tem dinheiro para acabar com a superlotação de hospitais, não tem dinheiro para pagar mais e melhor os professores e estruturas escolares, não tem dinheiro para resolver seus problemas econômicos e que joga milhões no desemprego e no trabalho informal, mas tem dinheiro para pagar a farra de empresários corruptos, tem dinheiro para pagar o extermínio da população. Toda essa violência ainda se decompõe em feudos eleitorais, onde as milícias e facções tocam política de terror nas comunidades que não votarem nos seus políticos, para caso de a compra de votos e a lavagem cerebral do narco-evangelismo não cumprirem seu papel.

E, como se a podridão material não bastasse, como se corroer a vida de milhões de pessoas com violência, desemprego, fome e precariedade não fosse suficiente, agora vemos a expressão maior dessa farra de parasitas, o deputado Anderson Moraes, autor de uma série de projetos que traduzem o estado pútrido em que se encontra o RJ. É ele quem propôs o famigerado projeto de lei 5.377/22, que altera a Lei estadual 2.644/96 para proibir o uso da foice e do martelo no Rio de Janeiro. Junto a ele se soma nesse resto de chorume, a Comissão de Constituição e Justiça, esse tribunal de serviçais do capital, que aprovou o supracitado projeto. Proibir a foice e o martelo é o sintoma de um estado morto e esfacelado. É declarar guerra à justiça, é dizer abertamente que o Estado do Rio de Janeiro teme mais o povo organizado do que o crime que ele mesmo alimenta.

Anderson Moraes é o retrato de uma elite política oportunista, reacionária e covarde: uma trajetória que é marcada por escândalos, autoritarismo mesquinho e desprezo absoluto pelas classes trabalhadoras. Seu projeto tenta censurar a foice e o martelo a partir da tentativa insana de equiparar com os nazistas e censurar os símbolos carregados pelos heróis do Exército Vermelho que libertaram diretamente entre 4 a 6 milhões de judeus que estavam sob risco de extermínio nazista, abrindo Auschwitz e outros campos de concentração, os símbolos de quem parou a barbárie nazista destruindo a Alemanha Nazi,  de quem no Brasil ajudou a pressionar o Estado a mobilizar a Força Expedicionária Brasileira para dar combate aos fascistas, daqueles que deram suas vidas pra combater o regime fascista que se instaurou no Brasil em 1964, regime adornado por esses pilantras. Essa é uma das agressões mais repugnantes à história da luta do povo brasileiro e aos heróis soviéticos que salvaram o mundo do Fascismo naquela época. A justificativa para isso é mais vulgar ainda, segundo o projeto ambos o fascismo e o antifascismo seriam equiparados por conta da justa denúncia por parte dos comunistas ao genocídio perpetrado pelo estado supremacista de Israel, denunciar os sionistas, como milhões de judeus no mundo inteiro o fazem, seria “antissemitismo”, um trunfo usado pelos vigaristas sionistas para justificar seus crimes. Assim, com essa equiparação saída das mais rasteiras e doentias mentes, buscam banir a foice e o martelo, que representa a união entre operários e camponeses, representa o suor que ergue e constrói as maravilhas do mundo, a união que salvou e salvará novamente a humanidade. Criminalizar esse estandarte é criminalizar o povo.

Para ainda além da abjeta proposta, o autor do projeto é muito coerente com o que esse esgoto todo existente no RJ já produziu. Anderson Moraes, essa verruga cancerígena ambulante, esse dejeto fecal saído da pior escória social de Nova Iguaçu, já empregou em seu gabinete pessoas com ficha criminal — inclusive acusadas de tráfico e roubo. Também colocou em cargo público Rogéria Bolsonaro, mãe dos filhos de Jair Bolsonaro, em um ato escancarado de clientelismo e troca de favores. Seu gabinete foi apontado em investigações como parte de redes de desinformação no Facebook, removidas por comportamento inautêntico e disseminação de fake news. Um charlatão e palhaço que procura aumentar a ignorância popular. 

Quando a pandemia matou milhares de trabalhadores fluminenses, o deputado agiu não para protegê-los, mas para judicializar medidas sanitárias, tentando derrubar o isolamento social. Para ele, a liberdade de contaminar valia mais que a vida das pessoas. Depois, propôs o Programa Guardião da Segurança Pública, que incentiva a formação de milícias e de banditismo pseudo-justiceiro, legalizando o vigilantismo sob o pretexto de “apoio à polícia”. É a institucionalização do medo, o Estado burguês delegando o poder de matar aos seus simpatizantes armados. Um projeto de terror, digno dos tempos mais sombrios da história.

Anderson Moraes é mais que um indivíduo desprezível, é o símbolo de uma estrutura apodrecida. Ele encarna o que o Rio de Janeiro tem de mais doente : o poder policialesco, o ódio às classes trabalhadoras, o desprezo pelo saber, pela cultura, pela organização popular. Sua guerra contra a foice e do martelo é, no fundo, uma guerra contra a possibilidade de um Brasil verdadeiramente justo.

Enquanto o povo sofre nas favelas sem saneamento, os vermes correm soltos nos gabinetes da Alerj. Eles vestem terno, falam em “moral” e “família”, mas vivem de sugar o que resta do Estado. E quando o povo começa a se levantar, eles tentam apagar a história, censurar a bandeira, proibir o símbolo da esperança. É o medo que a elite sente da justiça.

O Rio de Janeiro só voltará a ser digno quando expurgar esses parasitas. E entre os primeiros que precisam ser jogados no lixo da história está Anderson Moraes, uma imitação de homem que faz política como se o povo fosse inimigo, e o fascismo, uma virtude.

Esse projeto infame é a expressão jurídica do medo da burguesia. O medo de que os oprimidos descubram que podem viver sem senhores; medo de que os explorados levantem a cabeça e reconheçam que a ordem atual é uma fraude. Medo de que comecemos a limpar todo o atoleiro e a expulsar essa ninhada de ratos que governa o estado do Rio de Janeiro. É a tentativa covarde de sufocar a consciência de classe antes que ela floresça.

O Rio baniu tudo o que é justo, tudo o que é honesto, tudo o que cheira a verdade. Baniu a justiça social em nome do lucro, baniu a solidariedade em nome do medo, e agora quer banir a insígnia de luta em nome dessa “democracia”, essa mesma democracia que mata pretos e pobres todos os dias, e também, como se não bastasse, em nome da “democracia” genocida israelense, que decapita crianças, queima suas mães e terraplana hospitais e escolas.

Enquanto a miséria escorre pelas vielas, enquanto o esgoto corre a céu aberto e o povo fica revirado em filas de hospitais e mendiga por dignidade, os porcos correm soltos nos gabinetes, nas assembleias, nas comissões, gordos, satisfeitos, legislando contra o povo que dizem representar.

O Rio de Janeiro está doente com a mais vil decadência capitalista brasileira: um Estado falido, moralmente e economicamente, que sobrevive apenas reprimindo, censurando e enganando. Mas toda podridão apodrece até o fim. Algum dia removeremos o câncer social que esses senhores trataram de criar, revitalizando o Rio de Janeiro e dando o devido respeito a sua história de luta e sobrevivência, berço de algumas das maiores transformações políticas, culturais e sociais do nosso Brasil, que nos deu o Samba, as primeiras bibliotecas e universidades, a fundação do antigo Partido Comunista em 25 de março de 1922, na cidade de Niterói, além de algumas das maiores greves em favor da liberdade do povo e da pátria. Hoje a verdade é soterrada pela lama, mas ela voltará e tratará de pisar no pescoço desses ratos.

Otavio Costa – Programador e Bacharelando em Sistemas de Informação pelo CEFET – RJ

“Não temos compaixão e não pedimos compaixão de vocês. Quando chegar a nossa vez, nós não daremos desculpas para o terror.”

 – Karl Marx após o banimento do jornal Neue Rheinische Zeitung e ameaça de prisão dos seus redatores. 19 de maio de 1849.

FONTES:

  1. Deputados do PSL-RJ têm acusados de tráfico, roubo e “máfia” em gabinetes
    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/12/01/deputados-alerj-psl-policiais-fichados-prisao.htm
  2. CCJ do Rio aprova projeto que proíbe uso da foice e martelo em meio a polêmica
    https://www.diariocarioca.com/rio-de-janeiro/ccj-do-rio-aprova-projeto-que-proibe-uso-da-foice-e-martelo-em-meio-a-polemica/?utm_source=chatgpt.com
  3. Fiéis a Bolsonaros, deputados empregaram donos de 13 contas banidas em rede
    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/07/10/fieis-ao-cla-bolsonaro-deputados-empregaram-donos-de-13-contas-banidas.htm
  4. Deputado do PSL-RJ que teve perfis ligados a seu gabinete bloqueados, Anderson Moraes emprega ex-mulher de Bolsonaro.
    https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/07/08/deputado-do-psl-rj-que-teve-perfis-ligados-a-seu-gabinete-bloqueados-anderson-moraes-emprega-ex-mulher-de-bolsonaro.ghtml
  5. Justiça suspende decretos antigos com medidas restritivas no Rio, mas não cita o mais recente; proibições seguem valendo
    https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/04/20/justica-suspende-decretos-da-prefeitura-do-rio-com-medidas-restritivas-contra-a-covid-19.ghtml