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A EXTREMA-DIREITA É A OPERADORA POLÍTICA DO CRIME ORGANIZADO

No Brasil, o crime organizado se tornou um dos grandes móveis da acumulação de capital. Essa ascensão ganha força com o golpe do impeachment em 2016.

Mas muda de patamar sob a presidência de Bolsonaro. Em seu governo emerge à condição de força política dirigente uma burguesia marginal no sentido literal e figurado da palavra. Com a grande burguesia brasileira ligada às construtoras destruída pela Operação Lava-Jato, restou uma burguesia arrivista, predatória, criminosa, cujo único propósito é saquear o país e sua riqueza em exclusivo proveito próprio. Seu interior abriga agressivos operadores do mercado financeiro situados na Faria Lima, em São Paulo; um agronegócio devastador, cujos negócios se apoiam numa produção extensiva e insaciável por mais terras como condição para aumentar sua produtividade e apoiado em formas de trabalho análogas à escravidão; uma mineração ilegal de ouro e pedras preciosas em terras indígenas, cuja produção é negociada no mercado internacional; um pequeno e médio empresariado capitalista com enormes dificuldades de enfrentar uma acirrada concorrência num mercado dominado pelo grande capital monopolista; milícias e organizações criminosas paramilitares apoiadas na dominação de territórios e que vivem da extorsão de seus moradores; setores da burocracia de Estado, principalmente dos aparelhos jurídico-repressivos e nas forças armadas, favorecidos financeira e ideologicamente pelo discurso da ordem e do combate à criminalidade; líderes religiosos reacionários; por fim, setores reacionários das camadas médias que manifestam ódio às massas trabalhadoras e temor de sua ascensão econômica e política.

Esses diferentes setores se interconectam numa cadeia de relações e interesses comuns. O melhor exemplo foi revelado pela Operação Carbono Oculto, ao mostrar como o mercado financeiro da Faria Lima lava o dinheiro das atividades do tráfico de drogas e gasolina adulterada. Todos esses segmentos se identificam com a agenda ideológica ultraliberal, de destruição do papel regulador e fiscalizador do Estado, pois representam empecilhos às suas atividades criminosas. Sua ideologia se apoia na ilusão de ganho fácil de dinheiro sem trabalho e no consumo suntuoso como sinônimo de sucesso na vida.

Há uma clara conexão desses grupos capitalistas com políticos profissionais de partidos da direita e extrema-direita. Estes agem como seus operadores no plano institucional ao financiarem campanhas eleitorais e, nos casos mais graves, como em territórios dominados pelo crime, determinam em qual candidato os eleitores devem votar.

Fora do governo federal após a derrota de Bolsonaro, esses setores têm se articulado com deputados e governadores de direita e extrema-direita para sustentar suas atividades. Habilmente, nos últimos dias se aproveitaram da comoção causada pelo massacre no Rio de Janeiro, e tratam de se recolocar no debate público após uma sucessão de derrotas políticas. Dentre elas está a iniciativa manifestada pelo relator do Projeto de Lei de combate às facções criminosas, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), que condiciona a ação da Polícia Federal em operações contra narcotráfico ou milícias à solicitação dos governadores. Na prática, a proposta de Derrite blinda o crime organizado de investigações federais, permitindo sua livre atuação nos estados. A proposta de Derrite, cujo papel truculento na condução da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo elevou em mais de 50% o número de pessoas mortas pela PM no estado, reflete uma tática da extrema-direita de gravíssimas consequências. Depois de neutralizarem o poder da presidência pelo controle do Orçamento tratam agora de esvaziar o poder da União e fragmentar o território brasileiro, com a federação mantida por frouxos laços políticos e institucionais. A intenção é a de recolocar os estados, tal como na República Velha, no controle absoluto das oligarquias locais. É um retrocesso político e institucional de mais de 100 anos, feito para atender os interesses das atividades capitalistas criminosas.

Essa burguesia brasileira, marginal e miliciana, junto aos seus operadores políticos, alinhada política e ideologicamente à extrema-direita e associada ao imperialismo estadunidense, representa hoje a maior ameaça à existência do Brasil como nação integrada. Sua extirpação completa do cenário político é uma necessidade fundamental para a nossa sobrevivência como povo e país.