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HISTÓRIAS DA MÚSICA BRASILEIRA

Por Igor Grabois

A música brasileira se formou nos ritmos de África com a orquestração europeia, com as fortes contribuições ameríndias. O que se pode chamar de música brasileira, durante muito tempo, foi considerado como um fenômeno do Rio de Janeiro, tendo o samba como o estilo maior. O samba, que surgiu quase simultaneamente no Rio, em São Paulo e na Bahia. 

Porém, a riqueza regional é quase interminável.

O fluxo das migrações e a urbanização trazem os ritmos dos sertões, do nordeste e do interior de São Paulo no rumo do centro-oeste, com o forró, o xote, o baião, a viola caipira. Mais recente, já nos últimos anos do século XX, os tambores e as toadas das Gerais ganharam o mundo, fundidas ao jazz, ao rock, ao samba e à bossa nova. Sem contar o carimbó da Amazônia e a milonga do Brasil platino. Nas últimas décadas do século passado, vimos vicejar o rock Brasil.

No século atual, as periferias das metrópoles trouxeram o soul, a Miami sound, o funk e o rap para a cena nacional, claramente temperados pelo ritmo do samba tocado nos morros e bairros distantes do centro. O forró é reinventado no piseiro e no arrocha, com a mesma batida dançante. Mesmo o sertanejo moderno, mal recordando a moda de viola que lhe deu origem, tem sua qualidade e apelo. Um movimento que se renova e busca no passado a seiva de sua inspiração. Várias escolas musicais, que digeriram e transformaram as influências europeias e estadunidenses, que influencia a música do mundo, muito mais que os vira-latas daqui e os arrogantes de lá são capazes de admitir. Vamos falar da música do Brasil nesse espaço, primeiro a cada 15 dias, em breve semanalmente. Assuntos e estórias não faltam.

Começamos hoje a falar de letristas, pois a nossa música não é só melodia, é poesia.

A Heptarquia dos Poetas da Música Brasileira

Há uma divisão de trabalho mais ou menos corrente entre melodistas e letristas entre os compositores. Melodia e letra são tarefas diferentes no trabalho de composição.Em geral, o melodista compõe primeiro o que se chama a “música”, o poeta/letrista faz a letra – os versos – conforme o ritmo, a melodia e as harmonias do primeiro autor. Há casos clássicos na música brasileira nessa regra. Milton Nascimento mandando músicas para Márcio Borges, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e até para Gilberto Gil, Chico Buarque e Caetano Veloso colocarem letra. Kleiton Ramil enviando fitas gravadas para o seu irmão Vitor, Guinga e Aldir Blanc, Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro. Os exemplos são inúmeros.

Mas essa regra não é absoluta. A famosa Cálice foi composta por Gilberto Gil e Chico, letra e música, pelos dois ao mesmo tempo. Há letras prontas que se tornam canção, poemas são musicados, melodistas escrevem letras e letristas compõem música. Milton Nascimento tem mais de cem letras gravadas, a despeito das parcerias geniais com os letristas do Clube da Esquina. Paulo César Pinheiro, letrista por excelência, tem dezenas de músicas compostas, apesar de não tocar nenhum instrumento. A música brasileira produziu letristas geniais, desde os tempos de Catulo da Paixão Cearense. Poetas consagrados, como Vinícius de Morais, Geraldo Carneiro e José Miguel Wisnick, deixaram marcas na cena musical brasileira.
Escolhi sete letristas, para começar a falar desse universo.

Uma escolha meio temperada por gostos pessoais e com muito peso da minha formação. Não seríamos o que somos sem os maravilhosos compositores moldando a identidade nacional e o imaginário dos brasileiros. São eles Chico Buarque, Vitor Martins, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Fernando Brant, Márcio Borges e Ronaldo Bastos, os três últimos do Clube da Esquina. Cada um deles um capítulo a parte da história da poesia e da música. Seus versos ecoam a todo instante nas nossas cabeças. A partir da próxima coluna, análises e histórias de cada um deles.

 

Liga Comunista Brasileira,

12 de novembro de 2025.