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ILUSÕES PERIGOSAS

Desde a semana passada, Bolsonaro com mais quatro generais e um almirante, passaram a cumprir pena de prisão privativa de liberdade. Colocar em cana militares que tramaram um golpe de Estado é um acontecimento realmente inédito na história do Brasil.

Por isso, o cumprimento da pena de todos os golpistas é uma vitória das massas trabalhadoras e deve ser comemorado. Caso o golpe tivesse obtido êxito estaríamos hoje sob uma feroz ditadura de tipo fascista.

Mas o fato de militares de alta patente estarem em cana não pode nos levar a nutrir ilusões. Se a condenação é fato a ser saudado, isso não representa uma vitória automática da democracia. Tampouco uma demonstração de vitalidade das instituições democráticas. A prisão dos golpistas manifesta, em certo ponto, disputas intra-burguesas e no interior do capital financeiro, atualmente a fracção hegemônica da classe dominante.

Com o bolsonarismo emerge à cena política uma burguesia marginal, no sentido literal e figurado da palavra. Ela é composta por setores agressivos do capital financeiro, da agromineração mais devastadora, do crime organizado, de novos grupos de mídia, de arrivistas de toda espécie, de setores médios e pequeno-burgueses que veem com temor até mesmo as conquistas econômicas da classe trabalhadora, pelos derrotados na concorrência capitalista que aderem ao bolsonarismo para tirarem alguma vantagem e por setores da burocracia de Estado, principalmente de seus aparelhos jurídico-repressivos.
Toda essa gente está sedenta por ganhar dinheiro fácil, mesmo por meios criminosos, sem necessidade de trabalhar. E alcançar esse objetivo exige disputar o comando do Estado com facções mais antigas e tradicionais da burguesia brasileira. O bolsonarismo venceu a eleição de 2018 devido à decepção do eleitorado com os velhos partidos burgueses e da criminalização que a Lava Jato e a mídia fizeram contra os partidos do campo popular e a esquerda.

De posse da máquina de Estado, os setores sociais que formam sua base de apoio não poderiam aceitar em hipótese alguma uma derrota eleitoral em 2022. A começar pelo próprio chefe da gangue. Por isso, as articulações golpistas de Bolsonaro se iniciaram desde o começo do seu mandato. O não reconhecimento do resultado da eleição de 2022, acusando-a de fraude, apenas consumou uma estratégia política traçada desde o início: impor uma ditadura abertamente fascista, excluir a velha burguesia de posições-chaves no comando do Estado e abrir espaço para os membros que emergiram com o bolsonarismo.

Sem entender essa disputa interna no seio da burguesia, em especial da sua facção hegemônica, o capital financeiro, arrisca-se cair em ilusões perigosas, como o fim da extrema-direita ou sua derrota retumbante. Para as facções burguesas anti-bolsonaristas, assim como para as massas trabalhadoras, não lhes interessa uma ditadura nos termos propostos pelos golpistas. Consumado o regime de exceção, estariam abertas as portas para se aprofundar um regime de acumulação altamente destrutivo e superexplorador do povo. E por tabela afastaria as facções mais antigas do controle do Estado. Para estas, o regime democrático-burguês ainda é a melhor forma de garantir um sistema estável e legitimador da dominação sobre o povo.

A prisão de Bolsonaro e dos golpistas não deve ser desprezada. Mas também não se deve nutrir e semear ilusões. Os mesmos setores burgueses que hoje exaltam a democracia, tramaram o golpe do impeachment para acelerar uma agenda ultraliberal. Para essa gente, democracia é uma palavra vazia, usada para enganar o povo e dar a aparência de legitimidade a um sistema baseado na superexploração.

As massas trabalhadoras não podem abdicar das franquias democráticas já conquistadas: direito de expressão, de reunião, de organização e de manifestação. Mas essa democracia nunca estará completamente a seu favor enquanto o sistema político for dominado pelo capital financeiro, pelo latifúndio, pelos monopólios, pelo imperialismo e pelo crime organizado. O poder dessa gente elege políticos que enriquecem com dinheiro do orçamento secreto.
Bolsonaro e os golpistas presos são uma vitória. Mas democracia para valer só quando o povo tomar o poder.

Liga Comunista Brasileira

04 de dezembro de 2025