É PRECISO DETER A ESCALADA DE ATAQUES DE TRUMP CONTRA O BRASIL.
Assistimos uma escalada crescente na histórica interferência dos Estados Unidos nos assuntos internos brasileiros. O governo Trump, em seu afã de impedir a decadência do imperialismo estadunidense, anunciou medidas de ameaça à soberania nacional.
No começo de maio, o site DefesaNet revelou a intenção do governo norte-americano de retomar o controle do aeroporto de Fernando de Noronha e da base aérea de Natal. O argumento utilizado pelo governo Trump seria o “direito de retorno funcional” pelos investimentos feitos pelos Estados Unidos quando da construção dessas estruturas em meados do século XX. No fundo, o interesse é por sua localização geoestratégica, capaz de receber sistemas de vigilância oceânica de longo alcance.
Também em maio, representantes do governo Trump se reuniram com membros do Ministério da Justiça e Segurança Pública para caracterizar o PCC e o Comando Vermelho como organizações terroristas. Trata-se de manter uma política de ingerência dos Estados Unidos nos países latino-americanos, com uma reciclagem do projeto gringo de “guerra às drogas” das décadas de 1980 e 1990. O projeto do governo Trump não tem qualquer interesse efetivo no combate ao crime organizado. Quer apenas construir as condições políticas para intervenções diretas na vida institucional brasileira, com o congelamento de ativos nacionais e bloqueios econômicos, caso o Estado brasileiro, na visão conveniente de Washington, não se empenhe no combate ao terrorismo.
Ainda em maio, o Departamento de Justiça do Estado norte-americano anunciou recompensa de 10 milhões de dólares para quem der informações sobre redes de financiamento do Hezbollah na Tríplice Fronteira. O objetivo implícito é o mesmo de considerar PCC e CV como organizações terroristas: por causa das posições críticas do governo Lula em relação ao genocídio palestino na faixa de Gaza, pretende-se envolver o Brasil em alguma medida como conivente com o “terrorismo”.

Mas há um motivo mais profundo para essa ação na Tríplice Fronteira: tomar o controle da usina hidrelétrica de Itaipu. A produção de 50% da energia gerada por ela cabe ao Brasil, que compra outros 33% do Paraguai. Em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano, Marco Rubio, secretário do Departamento de Estado da gringa, declarou que o excedente gerado por Itaipu poderia ser usado por empresas de Inteligência Artificial que se instalarem na região. Não é por mero acaso que Bolsonaro, expressando uma posição claramente entreguista e pró-estadunidense, declarou em março que se voltar à presidência permitiria a instalação de uma base militar dos Estados Unidos na Tríplice Fronteira.
A concentração dessas medidas no mês de maio deixa evidente uma escalada na ingerência dos Estados Unidos no Brasil. É a manifestação clara da agressiva política externa de Trump, que para impedir a decadência inexorável do imperialismo, envereda pelo caminho da intervenção direta e aberta mesmo em países aliados.
A burguesia brasileira, em seu conjunto, é subserviente demais para mostrar qualquer ímpeto nacionalista. Ao contrário, ela encara sua condição de classe dominante e seu controle do território brasileiro com suas riquezas naturais e humanas, como ativos a oferecer em seus tenebrosos negócios com os Estados Unidos. Ela inclusive reconhece nos diferentes governos que passam pela Casa Branca, alguém a ser acionado para dirimir os conflitos intra-burgueses. Ou ampará-la em algum golpe de Estado quando se defronta com a ascensão do movimento operário e popular, tal como aconteceu no golpe de 1964
Só as massas trabalhadoras podem deter essa intromissão imperialista norte-americana no Brasil. A luta pela efetiva independência nacional é condição necessária para avançar a luta pelo socialismo. Cabe aos trabalhadores e a esquerda em geral retomar essa bandeira. Tirá-la das mãos da extrema-direita, que a utiliza só para fazer demagogia, e dotá-la de um valor substancial com caráter popular, socialista e anti-imperialista.