UM PROJETO PARA ESMAGAR O POVO.
O governo, preso na armadilha do arcabouço fiscal que ele próprio criou, precisa encontrar meios de aumentar a arrecadação e cortar gastos para alcançar o déficit zero. Inicialmente propôs o aumento das alíquotas do IOF. Mas, após tomar um pito do “mercado” e de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, o governo voltou atrás.
A solução encontrada foi convocar os presidentes da Câmara e do Senado, além de lideranças partidárias no Congresso, para buscar um projeto considerado viável. A proposta costurada é enviar uma Medida Provisória que inclui cobrar imposto de renda sobre Letras de Crédito Agrário e Letras de Crédito Imobiliário, mais aumento de alíquotas sobre as bets e cortes de benefícios fiscais.
Contudo, o presidente da Câmara, Hugo Motta, avisou que mesmo após fechar acordo com o governo, não garante aprovação da MP pelos deputados. E em linha com os banqueiros cobra a necessidade de se fazer um ajuste fiscal estruturante.
Em outras palavras, sob o pretexto de evitar o endividamento, querem a redução do BPC, os ataques ao Fundeb, a desvinculação do reajuste do salário mínimos dos benefícios sociais e aposentadorias e o fim dos gastos mínimos constitucionais em educação e saúde. Mas esse corte no endividamento não se aplica ao sistema da dívida pública, que enriquece banqueiros e setores parasitários das camadas médias que vivem de renda aplicando em títulos do Tesouro.
Há uma profunda alteração no eixo da acumulação capitalista no Brasil, que se deslocou do capital funcionante (produtivo) para a financeirização. E para garantir que esse fluxo de acumulação do capital se mantenha em escala sempre crescente, a burguesia esmaga o povo de várias formas. Destrói a capacidade produtiva do país, com impactos na geração de empregos; aumenta a exploração da classe trabalhadora pela precarização, pejotização e informalidade; assalta o patrimônio público via privatizações e concessões escandalosamente corruptas; e deteriora as condições de vida da massa trabalhadora, transformando-a num cotidiano marcado pelo desrespeito e pela violência. O resultado é a anomia e a destruição do tecido social.

Esse projeto, que arruína o país para garantir os privilégios de uma minoria privilegiada, atingiu um ponto de não-retorno. O Brasil se torna uma panela de pressão prestes a explodir em uma revolta emulada pela exploração, desigualdade e violência patrocinada pelo Estado. Mas que na sua fúria cega e sem direção pode ser derrotada.
A burguesia ainda tem alguma gordura para manter sua dominação política e ideológica sobre o povo brasileiro: uso dos mercadores da fé para controlar a consciência do povo; entreter as massas nas redes sociais com futilidades; vender a ilusão de que o empreendedorismo produzirá uma legião de autênticos pequeno-burgueses; de que se pode ficar rico queimando dinheiro em apostas nas bets; e empregar o uso da violência policial/miliciana para disseminar o terror nas periferias por puro capricho e deleite, como fez a PM do Rio de Janeiro no último domingo, ao realizar uma operação morro do Santo Amaro, no momento em que a comunidade se divertia numa festa junina de um projeto social e que resultou na morte do jovem Herus Guimarães.
A burguesia brasileira pode tentar de todas as formas conter a revolta social que germina no seio do povo. Mas não será capaz de segurar por muito tempo a explosão social que essa revolta está produzindo e que será devastadora, pondo fim a um sistema político podre e corrupto marcado por perpetuar os privilégios da classe dominante.