OS 500 ANOS DO MARTÍRIO DE THOMAS MÜNTZER.
A Reforma Protestante foi muito mais que um fenômeno religioso. A ruptura com a Igreja Católica por Lutero e Calvino foi a moldura ideológica da burguesia nascente e da pequena nobreza em sua luta contra a monarquia e o papado. Porém, a disputa teológica ultrapassou os limites dos palácios e sacristias. O campesinato alemão se rebelou contra a exploração feudal de séculos. O teólogo da Revolução Camponesa foi Thomas Müntzer. Friedrich Engels o imortalizou no indispensável Guerras Camponesas na Alemanha.
Contemporâneo de Lutero, Müntzer nasceu em Stolberg, na Renânia. Estudou em Leipzig e desenvolveu seu sacerdócio na Turíngia e na Francônia. Foi professor, padre em diversas paróquias e foi participante do movimento que precedeu a publicação das 95 Teses de Lutero. Desde cedo denunciou as diversas formas de exploração dos camponeses. Aboliu o latim da missa antes de Lutero faze-lo. Em suas pregações, Müntzer negava a necessidade da intermediação entre a Igreja e a divindade. A crença era algo individual, porém a liturgia era comunitária, com a participação de todos os crentes. A partir de 1523, Müntzer começa a organizar a rebelião armada dos camponeses. Lança a divisa Omnia Sunt Communia, que todas as coisas deveriam ser mantidas em comum e distribuídas a cada um segundo a sua necessidade.
A rebelião camponesa ganhou a Alemanha Central e do Sul, despertando a ira dos príncipes, que se uniram para combate-la, sendo católicos ou protestantes. Lutero declarou que os camponeses deveriam ser mortos, massacrados e decepados. Em maio de 1525, os camponeses são derrotados na Batalha de Frankenhausen. O massacre que se seguiu teve altas proporções. Estima-se que mais de cem mil camponeses foram mortos.

Müntzer foi torturado e morto a 27 de maio de 1525. Para Müntzer, o Reino dos Céus deveria ser realizado aqui e agora, pelo povo. O projeto de Deus é o comunismo. Teve por companheira Otillie von Gersen, ex-freira. Otillie fez parte de um grupo de dezesseis freiras que romperam com a vida de claustro e encontraram refúgio na comunidade igualitária liderada por Müntzer. Aqui o filme de Martin Hellberg, Thomas Müntzer, realizado na RDA em 1956:
Engels foi um grande estudioso da Revolução Camponesa liderada por Thomas Müntzer. Seu estudo pode ser encontrado na obra As Guerras Camponesas na Alemanha, publicada no Brasil pela editora Expressão Popular.
A guerra camponesa na Alemanha também foi retratada na pintura. O artista alemão da extinta República Democrática Alemã (RDA), Werner Tübke, pintou o quadro Panorama das Guerras Camponesas, de dimensão monumental: 14 metros de altura e 123 metros de circunferência, com o retrato de 3 mil personagens.